Este artigo faz uma reflexão sobre o Uso das Redes Socias na educação, muito interessante, vale a pena fazer esta leitura.
Luciane Hilu - PUCPR
Rosangela Gonçalves de Oliveira - PUCPR
Renata Rodero - PUCPR
Nos discursos acerca das potencialidades das redes sociais, questiona-se se essas podem servir à educação, ou se simplesmente replicariam as ações já sedimentadas de educação usando meios diversos. Sob este aspecto, verifica-se que no cotidiano atual, as redes sociais são usadas das formas mais inusitadas possíveis, que vão desde a utilização em prol do comércio e do marketing até a divulgação de causas específicas, entre outras. Estes aspectos fazem parte da natureza base das redes sociais e não podem ser desvinculados das possíveis propostas educativas das quais possam fazer parte. Este viés é exposto por Primo (2010), quando fala sobre a cibercultura, apontando como ela organiza novos discursos, discursos estes que se tornam necessários de serem incorporados a todas as práticas sociais, bem como as educacionais, a fim de que não existam abismos entre a realidade do indivíduo e seu processo social ou educativo.
Se, por um lado é necessário traçar possibilidades de usos das redes sociais na educação, ou em qualquer outro tipo de aplicação, em prol da inserção destas na realidade do indivíduo, não podemos ignorar que estes usos derivarão das características básicas das mesmas: a comunicação e o relacionamento social. Deve-se ter claro que estes meios não deixarão de ser, por essência, redes sociais, e de ter suas características próprias, derivadas desta essência. Seus limites e potencialidades devem ser respeitados a fim de não suprimir o que têm de atrativo e popular, sob o risco de engessar sua aplicação em condições acadêmicas.
Por essência, pode-se apontar que a natureza de uma rede social baseia-se em uma estrutura social composta por pessoas ou organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns. Suas características básicas residem em sua abertura e porosidade em termos de participantes, reunidos em um espaço virtual onde os relacionamentos são construídos horizontalmente e não hierarquicamente. Este espaço subsidia a possibilidade de compartilhamento de informações, conhecimentos, interesses e esforços em busca de objetivos comuns.
Com estas características, a rede social pode ser desenvolvida e aplicada a diferentes níveis de propostas com uma amplitude de possibilidades de aplicação: redes comunitárias, redes políticas, redes de troca de produtos, redes mercadológicas, redes de entretenimento, e especificamente, redes de ensino e aprendizado, traduzidas em diversas formas, como comunidades virtuais de aprendizagem, fóruns de discussão, redes de compartilhamento de arquivos, enciclopédias colaborativas online, etc.
Apesar das aplicações tão distintas entre si, a base que determina o que é uma rede social permanece - ou deve permanecer - em todas elas, cuja propriedade maior reside na interação entre os participantes, em maior ou menor grau, que, segundo Recuero (2005), é o que fornece a propriedade de “social” a estes espaços digitais:
[...] a interação é aquela ação que tem um reflexo comunicativo entre o indivíduo e seus pares, como reflexo social. A interação, pois, tem sempre um caráter social perene e diretamente relacionado ao processo comunicativo. (RECUERO, 2005.)
Em acordo com essa afirmação, o uso pedagógico das redes sociais pressupõe um acompanhamento constante do educador na proposta do trabalho ou atividade nelas inseridas. A presença e a intervenção em prol da construção de um conhecimento crítico não se efetiva livremente ou por osmose, ela exige um ir e vir pedagógico, a fim de mediar conhecimento e os saberes. Por mais avançadas que possam ser as ferramentas tecnológicas, a intervenção do educador é crucial. Por mais que os estudantes interajam sozinhos com o conhecimento posto, as mediações e os aprofundamentos teóricos se consolidam nas relações com o docente.
Partindo desses princípios, o uso das redes sociais em situações de ensino/aprendizagem exige uma intenção pedagógica clara posta pelo educador, um planejamento consciente do uso da mesma, a definição de uma perspectiva da aprendizagem para desenvolvimento do ensino proposto e intervenções e acompanhamentos sistemáticos da atividade, caso contrário ela poderá cair em descrédito com os participantes.
É importante esclarecer que possui-se muitas formas de entendimento de mediação, porém, o conceito entendido aqui é o sentido mais amplo como mediação cultural de Martin Barbeiro que “[...] significava que entre estímulo e resposta há um espesso espaço de crenças, costumes, sonhos, medos, tudo o que configura a cultura cotidiana” (p. 154, 2000) esclarecendo ele. O que se quer dizer com isso é que por mais que se tenha um objetivo claro preciso de comunicação e se lança isto para que as pessoas o interpretem, isso não significa, necessariamente, que elas farão exatamente o que foi pensado pelo propositor. Ou seja, as pessoas interpretam as mensagens e o fazem dentro de suas culturas e conhecimentos. (BARCELOS e MARTIN-BARBEIRO, 2000, p. 158).
Aliado a isto, devem estar claros para o educador em sua proposta, os binômios inerentes a esses espaços, que determinam o sucesso ou fracasso do empreendimento. Segundo Alexandra Juhasz (apud MATTAR, 2009) deve-se considerar os seguintes binômios:
a) público/privado - o desmanche das fronteiras e limites particulares do processo de ensino e aprendizagem;
b) aural/visual - uma exposição demasiada à cultura do consumo, não da criação e da renovação;
c) corpo/digital - perda da corporeidade da educação presencial;
d) amador/expert - o amadorismo dos materiais veiculados, o que torna difícil seu aproveitamento acadêmico;
e) diversão/educação - oposição entre o uso ligado ao simples prazer e à diversão versus a educação;
f) controle/caos - o caos de informação e poder versus o controle e a estrutura necessários para a educação.
Destaca-se também a necessidade de se tomar alguns cuidados básicos visando minimizar as dificuldades no uso efetivo das redes sociais em contexto educacional:
1) O primeiro é a necessidade de familiaridade e exploração da ferramenta antes de utilizá-la, tanto pelos professores quanto pelos alunos. A ação do professor, entrando nos espaços virtuais escolhidos e explorando-os junto com os alunos minimiza a distância de compreensão do seu uso, bem como possibilita uma clara exposição sobre como a rede será utilizada nas discussões, onde a atividade ficará alojada, e como os alunos interagirão.
2) O segundo é combinar em qual dimensão pedagógica o trabalho se desenvolverá, se uma análise exploratória, se uma síntese, se uma crítica, enfim o que for pertinente, atrelado às características que a própria rede possibilita, sem deturpar suas possíveis ações em prol de uma adequação ao universo educacional.
3) O terceiro é a necessidade de retomada posterior dos trabalhos produzidos na rede, unificando as interações entre professores e alunos com a intenção de avaliar todo processo.
Aliado a isto, de extrema importância se faz o conhecimento da constante reconstrução no universo cibernético.
As interações nas redes sociais, bem como todas as ações derivadas desse universo cyber, são muito voláteis, substituindo-se uma após a outra. Os sistemas sociais e as redes sociais, assim, estão em constante mudança que implica no aparecimento de novos padrões estruturais. A mudança e a constante transformação fazem parte da natureza das redes sociais, demandando do profissional da educação uma reavaliação constante de suas práticas educacionais. O educador deve desenvolver a capacidade de estar à frente no tocante ao conhecimento das propostas sociais na Internet, buscando novas formas de interação com seus alunos em prol da construção do conhecimento, possibilitando assim que as ações pedagógicas possam ser vivas e que envolvam os alunos respondendo por um novo engajamento dos mesmos no processo de ensino e aprendizagem.
REFERÊNCIAS
BARCELOS, Claudia e MARTIN-BARBEIRO, Jesus. Diálogos Midiológicos – 6; Comunicação e mediações culturais.Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, v. XXIII, n. 1, jan./jun. de 2000.
FÍGARO, Roseli. O desafio teórico-metodológico nas pesquisas de recepção. Revista da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, v.1, ago, p. 2-15, 2005.
MATTAR, João. Youtube na Educação: O Uso de Vídeos em EaD. Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2009/CD/trabalhos/2462009190733.pdf>. Acessado em: 01/08/2011.
PRIMO, Alex. Conexão CONVERSE Episódio 20 - Redes Sociais. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=rZBHdRv-S6I. Acessado em: 01/08/2011
RECUERO, Raquel. Comunidades Virtuais em Redes Sociais na Internet: Uma proposta de estudo. Ecompos, Internet, v. 4, n. Dez 2005, 2005.
Fonte:http://www.lami.pucpr.br/newsletter/site_news/artigo.php
Saiba mais na Revista Ponto Com http://www.revistapontocom.org.br/materias/redes-sociais-na-escola
Saiba mais na Revista Ponto Com http://www.revistapontocom.org.br/materias/redes-sociais-na-escola
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